Todo o povo do axé sabe, que desperdiçar comida é um crime contra a natureza. Todos sabemos bem, quantas entidades estão envolvidas no processo de criação daquele alimento e quanto esforço eles realizam para nos nutrir.
Em algumas casas de candomblé, existe um ritual onde, os donos da casa enterram todos os ossos dos animais que foram utilizados como alimento durante uma festa ou qualquer outro ritual. Isto se faz, em homenagem ao orixá Oko!
Oko é um orixá pouco conhecido e por isso mesmo pouco cultuado aqui no Brasil. É orixá da agricultura e do manejo com o solo. Come inhame e veste branco igual a Oxalá. Alguns itans contam, que foi Oko quem estimulou Ogum a fabricar utensílios agrícolas com o ferro.
Pois bem, vamos aquele que eu considero particularmente um dos itans mais lindos do Orixá Oko, e até mesmo um dos mais lindos do axé:
" Oko era um orixá muito velho, e muito pobre. Bem pobrezinho mesmo! Ele vivia do que semeava e vendia seus frutos a preços bem baratinhos para os outros orixás, que tiravam a maior onda com ele e se achavam superiores só porque eram mais ricos.
Um dia, Olodumaré (orixá criador) decidiu fazer um grande banquete e convocar todos os orixás, pois havia uma grande notícia a dar-lhes!
Todos se emperequetaram divinamente e foram lá pra casa de Olodumaré, curiosos sobre qual seria a novidade que o criador queria contar-lhes!
A mesa era enorme, cheia de comidas delciosas, atendendo a gulodice de cada um deles. De repente, no melhor da festa, Olodumaré pergunta aos presentes, quem eles acreditam que seja entre eles, o orixá mais querido e amado por todos. Aí o pau quebrou: Cada um se achava o próprio "Obá da Cocada"! E respondiam: "Ora bolas, é claro que o mais amado sou eu!" Oko coitado, sabia que ninguém dava bola pra ele mesmo, quieto estava, mudo ficou!
Aí Olodumaré, decidiu então tirar a prova dos nove e anunciou: "Pois bem, eu vou dar a vocês três anos de tempo para que me provem quem é o mais amado e festejado dos Orixás. Aquele que receber mais oferendas e banquetes em sua homenagem, provará que é o mais querido e receberá de mim um tesouro incalculável em poder e dinheiro." Os orixás ficaram eufóricos! Xangô então, vaidoso que só ele, gritou pra galera que aquela bufunfa já era dele e que não tinha pra mais ninguém, pois lindão como ele era e com três mulheres louquinhas por ele, o que ia ser de festa pra ele, não estava no gibi! :P
Aí, começou a bandidagem: Cada um dos orixás, começou a ser mais doce, mais gentil, mais solícito com os outros, na esperança de ser homenageado pelo colega! Tava todo mundo mais bonzinho e sorridente, que político em época de eleição!
E a zorra começou: Oxum fez um acordo com Xangô que ia dar um jantar em sua homenagem e em contrapartida ele faria o mesmo pra ela. Ele lançou este jogo com Obá e Oyá e aí já viu... 3 jantares só pra ele! Hehehe! Cada orixá foi fazendo seus acordos e o povo nunca viu tanta festa que nem naquele período! Agora pergunte: " E alguém lembrou de fazer uma homengenzinha que fosse a Orixá Oko?" Eu respondo: " Não! Ninguém! Todo mundo metido! Mandavam seus empregados lá na casa dele para comprar as frutas e verduras do banquete e o convidavam assim, quase que por obrigação! Oko, gentilmente agradecia o convite e ia feliz da vida, com seus melhores trapinhos (eu disse que ele era pobre. Pobre mas limpinho! rs) e em cada festa, em cada banquete, em cada homenagem a qualquer orixa mangagão, fazia uma única pergunta: "Posso ficar com os ossos dos animais da festa?" Os outros orixás, claro, não entendiam nada, se acabavam de rir da cara do pobre Oko, e achando até que aquilo fosse só mania de velho, permitiam numa boa.
Oko então, quando chegava na sua casa pegava os ossos, lavava, botava pra secar, metia em um saquinho de murim e enterrava!
Os três anos se passaram e nenhum dos orixás se sentiu na obrigação de oferecer sequer um inhame azedo em homenagem ao pobre do Oko!
Todos foram chamados a presença de Olodumaré que iria enfim, questioná-los sobre quem, entre eles, fora aquela que mais fora convidado, ou homenageado em uma festa ou banquete!
Aí, cada um começou a puxar o saco para a sua sardinha e narrando suas aventuras, seus eventos, e vangloriando-se do quanto eram queridos e amados por todos os outros. Só quem não disse nada foi Oko!
Aí, Olodumaré que não era besta, perguntou diretamente a Oko sobre as homenagens que ele por acaso tivesse recebido! Oko, não contou conversa: Lascou um monte de lorota pra cima de Olodumaré, contando que assim que saiu do seu palácio, voltando pra casa, todos os orixás haviam reconhecido o seu trabalho como agricultor o mais importante entre os deles e declarado que ele seria o mais homenageado entre todos.
Era tanta lorota, que os orixás ficaram indignados! Como podia Oko, aquele velho, feio, barrigudo e cheio de terra nas mãos enrugadas se permitir de dizer que ele era o que tinha sido mais homenageado entre eles?
Olodumaré então, na sua infinita sabedoria e paciência, depois de ouvir todos os relatos e queixumes dos orixás, decidiu declarar: " Pois bem! Cada um de vocês afirma que foi o que mais recebeu homenagens. Pois bem: eu quero que provem! O primeiro que conseguir provar tudo aquilo que está dizendo, será o vencedor!"
Silêncio geral!!! Os orixás ficaram mudos! Como é que iam provar tudo aquilo que tinham contado pra Olodumaré? Somente um, o nosso herói orixá Oko, abriu a boca e triufante gritou: "Mestre, eu posso provar que tudo aquilo que contei aqui é verdade!" Abriu uma enorme sacola branca de murim, que ele tinha trazido consigo de casa, e derramou uma porrada de ossos secos de animais aos pés de todos os orixás (que ficaram passados) e de Olodumaré! E disse: "Mestre, eu fiquei tão surpreso e tão feliz, com tamanho amor, respeito e consideração que meus irmãos orixás me dedicaram, que fiz questão de guardar de cada banquete que recebi em minha homenagem, os ossos de todos os animais que foram oferecidos como recordação de tão belos momentos!"
A sorte de Omolú naquele momento, foi ter o rosto coberto de palha pra galera não ver a cara de raiva que ele fez diante deste babado todo de Oko contando e provando tanta lorota, descabeludamente! rs
Diante dos fatos então, Olodumaré não teve outra alternativa senão, premiar a sabedoria e esperteza de Oko, com o poder de fazer brotar os frutos da terra e presenteá-lo com o dinheiro que havia prometido. E assim, Oko se tornou um dos orixás mais ricos e poderosos do orum. E é por isso, que os adeptos do candomblé sabem que não devem jogar fora de qualquer modo os restos de comida. Eles devem voltar respeitosamente para a terra, de onde vieram! :D"
Moral: Quem não é o mais rico, tem que ser o mais esperto!
Espero que vcs tenham gostado! :D
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